Que dizer deste debate? O descalabro de Manuela Ferreira Leite já o abordei aqui e aqui. Patinha Antão mostrou que existia. Santana Lopes mostrou que não desistia. Pedro Passos Coelho foi o claro vencedor.
Vamos então por partes. Patinha Antão teve uma campanha apagada, à falta de apoios consolidados no Partido. Tinha começado mal no Prós e Contras em fins de Abril, onde as insistentes menções ao seu grau de doutorado roçaram a gabarolice. Redimiu-se neste debate, fazendo propostas claras nos seus temas de predilecção, e defendendo o grupo parlamentar do menosprezo de Ferreira Leite e da apropriação de Santana Lopes. Uma atitude que os militantes apreciam.
Santana Lopes esteve quiçá um pouco mais apagado do que no primeiro debate. Mas no essencial, foi igual a si próprio: combativo, enérgico, volteante, inconsequente. Faz-me lembrar Sá-Carneiro (Mário, não Francisco):
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Pedro Passos Coelho, finalmente. Mostrou a assertividade que se esperava dele, sem se deixar enredar em querelas. Liberto da simpatia que alguns tomaram por reverência, soube ser afirmativo e seguro nas suas propostas e soube ser conciso na expressão das suas ideias. Soube sobretudo separar as águas, e deixar bem vincada na mente dos espectadores a diferença entre a sua candidatura e todas as restantes. Foi um claro vencedor do único debate conduzido com lisura e isenção nestas directas. Merece ganhar a eleição do proximo sábado.
Já é hábito nos jornais portugueses que o título diga uma coisa e o corpo da notícia outra bem diferente. A entrevista de Pedro Passos Coelho ao DN de hoje é exemplar a este respeito.
Título: "Santana Lopes terá o meu apoio para Lisboa"
O que se percebe é que Pedro Passos Coelho pretende indicar como candidato à CML Pedro Santana Lopes.
Corpo: É um ano carregado de eleições. Já pensou quais são as pessoas que vai lançar nessas batalhas?
As diversas eleições têm perfis distintos. No caso das autárquicas, não compete ao presidente do PSD estar a escolher os candidatos.
Nem para a Câmara de Lisboa?
Nem para a Câmara de Lisboa. O presidente do PSD deve ajudar e colaborar com as estruturas locais e distritais para a definição da estratégia. Às vezes, pode ser importante que o PSD peça ao seu líder para intervir, facilitando uma escolha. (...)
Santana Lopes dá um bom candidato à Câmara de Lisboa?
Não tenho dúvidas nenhumas de que se as pessoas do PSD em Lisboa acharem que o dr. Santana Lopes é uma mais-valia para esse combate e se ele estiver disponível, terá o meu apoio, pura e simplesmente.
Mas o que Passos Coelho disse é que se for eleito, não será ele a escolher os candidatos autárquicos, nem mesmo em Lisboa, acrescentando que o facto de o candidato escolhido pelas estruturas locais poder ser Pedro Santana Lopes não o impedirá de o apoiar enquanto líder do PSD. Esta é, aliás, uma diferença assinalável entre a sua e as restantes candidaturas no que diz respeito à governação do Partido.
Também Pedro Santana Lopes e Patinha Antão merecem uma palavra neste rescaldo.
Apesar de não ter conseguido atingir os seus objectivos, Pedro Santana Lopes não esteve mal neste debate. Não se conseguiu ainda libertar do espectro de 2004, mas pelo menos conteve as expressões mais contundentes de ressentimento com que tem marcado as suas intervenções públicas desde então. Uma evolução positiva que me apraz registar.
Patinha Antão teceu considerações de ordem técnica sobre impostos que também têm algum interesse.
A primeira consequência de Santana Lopes e de Ferreira Leite foi a inesperada “obamização” de Passos Coelho. Sim, Passos vem do PSD, com os decorrentes caciques e limitações ideológicas (ainda não descobriu, aos quarenta e tal anos, se é de direita ou de esquerda). Mas fala de “reformas” e, pelo menos, chama “liberalismo” ao “liberalismo”. É provável que tenha ainda outras qualidades. Acima de todas, porém, tem neste momento esta: não é Santana nem Ferreira Leite. Ao contrário deles, não deixará Sócrates reduzir o debate às contas do passado. [...] Talvez Passos Coelho seja o único dos candidatos em condições de não ser o último líder do PSD.
Via Da Literatura.
Ler também na TSF e no Portugal Diário.
Até agora, quem seguisse as directas do PSD apenas pela comunicação social vivia num reino imaginário em que Manuela Ferreira Leite tinha a eleição garantida, em que Pedro Santana Lopes aparecia como o mais temível adversário da candidata do establishment, e Pedro Passos Coelho era simpaticamente remetido para um futuro nebuloso... Mas este fim-de-semana, soou o wake-up call relativamente às directas do PSD na comunicação social.
No Expresso, na página ao lado da entrevista de Pedro Passos Coelho vinha um artigo de surreal desinformação, onde mesmo assim não foi possível escamotear a preocupação da corte de Manuela Ferreira Leite face a uma disputa que julgava poder ganhar por direito divino. O Público, hoje, mostrou ser muito mais realista do que o venerável semanário do Dr. Balsemão acerca da relação de forças entre os candidatos, como se pode ler aqui. E até Marcelo Rebelo de Sousa, confesso apoiante de Manuela Ferreira Leite, também já despertou para o facto de Pedro Passos Coelho ser o mais forte concorrente da candidata pela qual faz semanalmente campanha.
Agora que já acordaram para a realidade, talvez os analistas e os comentadores comecem a levar um pouco mais a sério o que se está a passar no PSD. Talvez comecem a pensar melhor no que poderá ser o PSD liderado por Pedro Passos Coelho. Talvez comecem a reflectir sobre o que poderá ser o panorama político em 2009 após um ano de liderança de Pedro Passos Coelho. E talvez comecem a surpreender-se com a amplitude da revisão de expectativas que estas eleições directas podem representar para o País...
AAN
Filipa Martins
João Espinho
Jorge Fonseca Dias
LR
Paulo Gorjão
Rui A.
TAF
Vasco Campilho
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