A questão das «contas públicas, não é o problema mais urgente», mas sim a «emergência das questões sociais» como «o desemprego e os novos pobres», referiu Manuela Ferreira Leite no debate na TVI. Aliás, Ferreira Leite tem repetido este ponto quase diariamente nas suas acções de campanha.
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Esta súbita preocupação com as questões sociais -- em particular com o desemprego e os novos pobres -- é uma verdadeira surpresa. Uma preocupação que surgiu nos últimos 15 dias, por motivos óbvios de campanha. Ferreira Leite participa no programa «Falar Claro» da Rádio Renascença desde Maio de 2005 e tem uma coluna quinzenal no suplemento de economia do Expresso desde Abril de 2005. Terá sido, porventura, nesses espaços que insistiu no tema sem que se tenha prestado a devida atenção?
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Comecemos pelo Expresso. Como se pode confirmar, em 2008, Ferreira Leite não dedicou uma única linha -- uma apenas! -- ao assunto, apesar da urgência que lhe atribui. Ferreira escreveu sobre a qualidade da produção legislativa, sobre as alterações na imagem do PSD e, claro, escreveu muito sobre finanças. Estranho sentimento de urgência...
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Recuemos até ao segundo semestre de 2007. Talvez, quem sabe, a sua preocupação seja mais antiga. Ora, nesse período encontramos um artigo em que se elege os acontecimentos no BCP como o tema do ano (29/12); uma reflexão sobre o Tratado de Lisboa (15/12); outra sobre a empresa Estradas de Portugal (1/12), a prepotência fiscal (17/11), os atrasos do Estado nos pagamentos (3/11) e o défice (20/10). A 5 de Outubro, de facto, Ferreira Leite escreve sobre desemprego, mas critica investimentos absorvam muita mão-de-obra. Se existe «urgência» em combater o desemprego não foi seguramente aqui que a expressou. Adiante. Depois seguem-se algumas linhas sobre o orçamento rectificativo (22/9), sobre a responsabilidade do Estado (8/9), sobre o Estado da nação (28/7), sobre -- uma vez mais... -- a empresa Estradas de Portugal (13/7).
Sobre o segundo semestre de 2007 estamos conversados. A preocupação com as questões sociais, pelos vistos, será anterior. Altura, talvez, para recuar ao primeiro semestre de 2007?
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Recuemos, então, até ao primeiro semestre de 2007. O semestre termina reflectindo sobre sindicatos e flexigurança (30/6). Antes abordou-se a presidência portuguesa da União Europeia (16/6), o episódio da DREN (2/6), a educação (19/5), o linha do Metro do Sul do Tejo (5/5), a retoma da economia portuguesa (21/4), a moeda única (6/4), o valor do défice (24/3), o estado da Oposição (10/3), as estatísticas (24/2), os centros de decisão nacionais (9/2), a visita do Presidente da República à Índia e a globalização (27/1) e, para terminar, a reforma da Administração Pública (13/1).
Sobre as questões sociais, o desemprego e os novos pobres, nem uma linha. Tendo em conta que este é, nas suas palavras, o problema mais urgente da actualidade, o seu silêncio é francamente extraordinário...
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Será que Ferreira Leite concentrou toda a sua atenção sobre os novos pobres e o desemprego no programa «Falar Claro» da Rádio Renascença?
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[Continua.]
AAN
Filipa Martins
João Espinho
Jorge Fonseca Dias
LR
Paulo Gorjão
Rui A.
TAF
Vasco Campilho
Vítor Palmilha
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